sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O papagaio que falava iídish

Meyer Glusman, um solitário viúvo, caminhava para casa após ter passado em frente à nova Estação da Luz, em pleno bairro da Bom Retiro quando passou em frente a uma "petshop".
E, então ouviu distintamente uma voz engasgada que chamava:
- Roawrk! Vus majste! Yo, du.
(- Como vai você! Sim, com você que estou falando!)

Meyer abriu os olhos com força tentando olhar quem falava.
O vendedor vendo-o, convidou-o:
- Entre Senhor e e veja esta formosa ave!
Era um papagaio, pequeno meio verde, meio amarelo, que volteando a cabeça perguntou-lhe:
- Kenst redn Idish?
(- Sabes falar Idish?).

Logo mais, Meyer estava pagando os R$ 1.000,00 reais que o lojista lhe pedira e levou o louro, sua gaiola e comida de papagaio por um mês.
E toda aquela noite os dois passaram falando em Idish! Meyer estava maravilhado. Contou as aventuras de seu pai para fugir dos "progrons"(perseguidores) na Rússia e de sua chegada no Brasil. Contou-lhe como era formosa Miriam, sua defunta esposa, falou da sua família, da indústria têxtil que falira e tantas coisas mais. O papagaio escutava atentamente e por vezes fazia algum comentário. O pássaro também falou de sua vida antes de ir para a loja de animais, de sua solidão e aborrecimento sem ter ali com quem falar. E, assim seguiram falando, falando, em idish, logicamente até caírem no sono.

Dia seguinte Meyer colocou os "teflin" (vestimenta religiosa) e rezou. O louro perguntou que era aquilo, e com a resposta, disse-lhe a ave que também queria aprender. Meyer saiu a comprar-lhe um pequeno "teflin" que nele coubesse. O louro ficou contente e rapidamente aprendeu a "davenen" (rezar) hebréia.

Chegou o Rosh Hashana (Ano Novo Hebreu). O louro pediu-lhe para o levar ao "shil" (templo). Meyer explicou-lhe lá não era lugar nem atividade para pássaros, mas o louro tanto insistiu que Meyer acedeu.

Lá chegando, o louro no ombro, após mil explicações ao rabino e também a Jazan, estes finalmente aceitaram, mas o louro em voz alta e publicamente diria a "davenen".

Todos os assistentes apostaram que aquilo seria impossível, pois era loucura aceitar que a ave sabia "davenen". As apostas tornaram-se reais, em constante e sonante. O viúvo Meyer, sorrindo imperceptivelmente, aceitou todas apostas, inclusive a do rabino...

O papagaio deixou transcorrer cada pregação e cada canção sem emitir único som! Meyer foi à loucura e vária vez falou-lhe ao ouvido:

- Daven!
- Daven!
E o louro, nada.

- Maldito louro !Reeeezaaa!! Senão te parto a cara! Rezaaa logo!
O louro nem piscava.

Terminado o serviço, Meyer devia aos seus amigos do "shil" e ao rabino uns 10.000 reais. Estava possesso.
No caminho para a casa nada falou.

Quando chegaram, o louro começou a cantar a plenos pulmões:
- "Hevenu sholen aleijem. Hevenu sholeeem aleijeeem!".

- Pássaro miserável! Gritou-lhe Meyer. Custaste-me dez mil! Por que? Sempre te tratei bem; comprei-te "teflin" e aprendestes todas as pregações. Ensinei-te o hebreu y a "Torá". Porque me fizestes isso? Por que?

- Meyeeer! Contestou suavemente o papagaio,
- Não sejas "shmok"!
Pensas no que iremos faturar no Yom Kipur !...

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