segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Especial para quem tem mais de 50 anos

Especial para quem tem mais de 50 anos. É o que sempre pensei,

Com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico
doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.

OLá MINHA GENTE, O ESCRITO ABAIXO é PARA QUEM Já
PASSOU DOS 50 ANOS, TEM FILHO EM CASA E TENTA SURFAR
NA ONDA DA MORDERNIDA DE QUE ESTA SEMPRE SE 0
MODERNIZANDO PARA NOS ENLOUQUECER MAIS.ABRAçOS.

FAMÍLIA DO SÉCULO VINTE E UM

Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou
à balconista:

- Moça, vocês têm pen drive?

- Temos, sim.

- O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para
comprar um.

- Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem
no computador.

- Ah, como um disquete...

- Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O
disquete, que nem existe mais, só salva texto.

- Ah, tá. bom, vou querer.

- Quantos gigas?

- Hein???

- De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?

- O que é gigas?

- É o tamanho do pen.

- Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem
fazer muito volume.

- Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de
coisas que ele pode arquivar.

- Ah, tá. E quantos tamanhos têm?

- Dois, quatro, oito e até dez gigas.

- Hummmm, meu filho não falou quantos gigas queria.

- Neste caso, o melhor é levar o maior.

- Sim, eu acho que sim. Quanto custa?

- Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB?

- Como???

- É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada
compatível.

- USB não é a potência do ar condicionado?

- Não, aquilo é BTU.

- Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha
entrada é USB.

- USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do
computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor
só tem que enfiar o pino no buraco redondo.

- Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né?

- Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se
for velho é P2.

- Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com
disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar,
quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com
aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem
mais simples, não acha?

- Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen
drive.

- Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu
filho.

- Quem sabe o senhor liga para ele?

- Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele
que ainda não aprendi a discar.

- Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone, este é bom mesmo, tem
Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad,
câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, dá pra mandar e
receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.

- Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?

- Não senhor, assim o senhor me faz rir, é que ele funciona no
sub-padrão, por isso é muito mais rápido.

- E Bluetooth? Estou emocionado. Não entendo como os celulares
anteriores não possuíam Bluetooth.

- O senhor sabe para que serve?

- É claro que não.

- É para comunicar um celular com outro, sem fio.

- Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já
não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para
ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é
apenas para carregar a bateria...

- Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth
o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista
de telefones, por exemplo.

- Ah, e antes precisava fio?

- Não, tinha que trocar o chip.

- Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...

- Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.

- Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?

- Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.

- E faço o quê, com o chip?

- Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor
sabe.

- Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma
coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso,
no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só
preciso clicar nuns duzentos botões...

- Nãão, é tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar
para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só
teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está
chamando.

Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado
pelos ares, para um outro planeta:

- Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de
quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro
gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Nossa
conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está
comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.

- Que idade tem seu filho?

Vai fazer dez em março.

- Que gracinha...

- É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.

- Certo, senhor. Quer para presente?

Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo
objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos
parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.

Máquina infernal, pensa.

Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E
tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém
que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá
compreender.

Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como
funciona.
O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em
seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês.
Seleciona umas palavras e um roque infernal invade o quarto e os
ouvidos de Haroldo.

Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:

- Pronto pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para
qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música.
No meu celular, por exemplo.

- Teu celular tem entrada USB?

- É lógico. O teu também tem.

- É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir
pelo celular?

- Se o senhor não quiser baixar direto da internet...

Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:

- Sabe que eu tenho Bluetooth?

- Como é que é???

- Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?

- Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.

- Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone,
gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha
que apertar um botão, para as coisas funcionarem?

_- Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas
numa só, até Bluetooth você tem._
- E conexão USB também.

- Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.

- Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais
rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que
nunca vou usar.

- Ué? Por quê?

- Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e tudo
o que sei já está superado.

_- Por falar nisso temos que trocar nossa televisão._
- Ué? A nossa estragou?

-_ Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, slowmotion e reset._

- Tudo isso?

- Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.

_ QUANDO ESTAVA QUASE PEGANDO NO SONO, O FILHO
ENTRA NO QUARTO E DIZ:
_ - PAI, ME COMPRA UM PLAYSTATION VINTE E SETE?_

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